João estava super entusiasmado com ter conseguido um emprego. Não podia acreditar que ainda bem jovem (tinha apenas 23 anos) havia conseguido aquele trabalho em uma empresa automotiva. Com mais de 14 milhões de desempregados, via pessoas desesperadas entre seus amigos e na sua família. Agora poderia se tranquilizar um pouco. Começou o trabalho como um bom cristão: se dedicando, não criticando nada e focado no trabalho que, causava um cansaço absurdo, mas que lhe garantia um salário no fim do mês. Uma coisa lhe chamou atenção demais: todos os empregados tinham direito a um terreno. Com as doze horas que acabava trabalhando não teve tempo de visitar o seu pedaço de terra, que lhe concederia uma folga quando se aposentasse. Pensava muito nisso pois queria deixar algo para sua esposa, Francisca com quem havia casado há apenas 1 ano; fora o fato que planejavam três filhos. Um pouco fora dos acontecimentos políticos, sem tempo para ler jornais ou sites na internet, se concentrou
Como sempre ela acordou e colocou sua maquiagem. Começou pelos pés, dedo a dedo, foi subindo pelas pernas, cintura, barriga, seios. No braço trocou de cor e assim subiu pelo pescoço e todo o rosto. Não gostava do roxo com o qual havia nascido então se pintava sempre de laranja. Ele igual. Não aguentava se ver no espelho. Se acordava para mijar na noite evitava olhar para o espelho no caminho do vaso. Acordou e começou o mesmo processo dela. Ele tinha nascido laranja e se pintava de roxo todas as manhãs. Cruzavam-se na rua todos os dias. Os dois se odiavam pelas cores que acreditavam ser suas naturais. Não se olhavam mais pois parecia muito. Era muito e a divisão estava fácil de concluir. O cego que estava esperando certas coisas, coisas que ele já não esperava muito, sentado, e com um chapeuzinho esperando moedas. Os dois as colocavam. O cego sabia quem era quem, sentia o cheiro da tinta e trajava vermelho. Sua cor era vermelha. Tinha perdido a visão com faíscas de solda.